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terça-feira, 2 de outubro de 2018

As mulheres que tentei ser

Já tentei ser a mulher que tem a casa impecavelmente limpa. 
Aquela que já levanta organizando, limpando chão, com pia sempre desocupada, refeições planejadas sempre nutritivas e frescas, roupas lavadas e passadas, casa com aquele cheiro de limpeza, crianças arrumadas. Até conseguí, por um tempo. Mas eu sempre estava descabelada, com sobrancelha por fazer, unhas em péssimo estado, dores nas costas e joelhos, ansiosa sempre pensando no que eu poderia fazer para que a casa se mantivesse perfeita. 

Já tentei ser a mulher que está sempre arrumada, cheirosa e disposta a me relacionar com meu marido com uma frequência maior, dessas que programam (mentalmente) dias especiais de namoro durante a semana. Mas o tempo investido na limpeza da casa me deixava exausta, mau humorada e quando 'o dia agendado para o namoro' chegava eu fazia a egípcia e fingia que não era comigo.

Já tentei ser a mãe que tem uma paciência infinita com os filhos, que nunca levanta a voz, que não critica e que brinca com as crianças sempre. Mas tem dias que a paciência está no limite, a cabeça dói, as crianças adoecem, eu adoeço, tudo desanda e acabo chamando minha filha de chata ou sendo chamada de chata por ela.

Já tentei ser a esposa que nunca reclama, que escuta, que não se aborrece com nada, que não pede nada. Mas esse peso de querer ser perfeita e objeto de devoção me sufoca e me afasta cada vez mais do meu marido, que também tem direito de reclamar, que as vezes não quer ouvir ou falar, que se aborrece e que me pede massagem.

Já tentei ser a amiga/filha/irmã que está sempre disponível para tudo e todos. Dessas que, não importa a hora ou o momento, corre para ajudar de todas as formas possíveis. Só que essa versão de mim acabava por negligenciar os filhos, o marido, a mim mesma. 

Tentei ser uma mulher (aparentemente) independente, forte, empreendedora, de 'sucesso'. Só que não sou boa administradora, sou péssima com finanças e sou extremamente dependente. Emocionalmente dependo muito de aprovação e aceitação dos que me rodeiam. 

Já tentei ser uma mulher fitness. Que faz exercícios (em casa ou fora de casa), que corta o açúcar da alimentação, que bebe muita água. Mas tem dias que a correria com a casa é tanta que esqueço de beber água (e de fazer xixi). Também tem aqueles dias em que a ansiedade bate e tudo que quero é uma 'bomba de açúcar'.

Já tentei ser a filha/mãe/esposa/amiga/profissional/mulher que EU ACHAVA que os outros esperavam que eu fosse. 
Já tentei ser 'a mulher virtuosa' que a Bíblia fala.
Já tentei ser a Mulher Maravilha.

A única coisa que não tentei foi ser eu mesma. Pelo menos até pouco tempo. 

Cheguei aos 30 acolhendo minhas limitações, meus defeitos e qualidades.
Antes de acolher, precisei enxergar, reconhecer, admitir. Colocar em prática um olhar empático e uma comunicação não violenta comigo. Entender que não sou uma característica isolada. 
Tenho problemas com a ira. Mas a ira não é quem eu sou. Também sou extremamente carinhosa e uma coisa não anula a outra. 
Agora tento o equilíbrio e isso dói.

Planejei o serviço doméstico dividindo as tarefas no decorrer da semana para não sobrecarregar. Organizo e congelo alimentos para facilitar o preparo das refeições. De ontem pra hoje a louça 'dormiu' na pia, para ser lavada. Tem dias que jantamos pão/pizza e tudo bem. As vezes as crianças estão descabeladas porque viver e brincar descabela mesmo. Tem dias que os narizes estão escorrendo e é vida que segue.

Nunca fui um modelo de vaidade. Mas hoje não deito na cama sem antes tomar um banho e passar o meu hidratante preferido, para mim. Não planejo o sexo. Busco com mais frequência um toque, um abraço, um beijo e um cafuné.

Os dias não tão fáceis com as crianças não são eternos, tem um fim. E enquanto não terminam eu lhes digo como me sinto e acolho o sentimento deles. Estou alí com eles, entrego meu tempo e minha atenção.

Entendo e valorizo a importância da solitude no casamento. Discordamos e (agora) raramente ficamos sem nos falar. Ofereço e recebo massagem para aliviar as dores do corpo e da alma.

Ainda estou aqui para quem precisar, mas dentro de limites, respeitando o tempo e agenda, minha e da minha família. 

Admito que, por hora, meu maior empreendimento é minha família, em parceria com meu marido. Não é fácil, mas é no que invisto conhecimento, energia, disposição.

Estou tentando ser quem sou e não quem eu acho que os outros esperam que eu seja.

Liberte-se de quem tenta ser. Descubra quem você é.

sexta-feira, 21 de setembro de 2018

Escolhendo minhas batalhas (e o Dia Internacional da Paz)

Abri meu coração em um grupo virtual de mães. Partilhei algumas dificuldades com a rotina que acabara de mudar com a chegada do caçula. Não lembro ao certo quais eram as queixas, mas dentre tantos conselhos e partilhas, não esqueço de uma frase em especial:
Escolha suas batalhas ou você logo gastará toda sua energia e paciência.
Sou muito grata por esse conselho.

Recentemente mudamos o lugar onde Zoé faz terapia. Essa mudança veio ao mesmo tempo em que a professora dela, da creche, precisou ficar afastada por 15 dias e as substitutas revezavam o cuidado da turma. Isso por sí só já bastou para tirá-la do eixo, deixá-la ansiosa e desencadear crises de terror noturno. Ela não tirava a soneca no meio do dia (nem na escola, nem em casa aos finais de semana) e, num efeito cascata, ficava irritada no final do dia, impossibilitando um retorno pra casa, um banho e um jantar tranquilos. Os dias estavam enlouquecedores! 

No dia em que seria a terapia dela houve uma sucessão de 'mau entendidos'. 
Fazia muito frio. Como de costume a retirei mais cedo da creche, ela estava ansiosa e animada pois haviam prometido que a terapia seria com outras crianças. Cheguei ao local de atendimento e nada do previsto iria acontecer. Nos marcaram no dia errado para o atendimento e, mesmo que fosse o dia certo, não seria uma terapia conjunta com outras crianças.

Abaixei na altura de Zoé, expliquei o que estava acontecendo e oferecí a alternativa de voltar pra casa, montar uma barraca e brincar comigo e com o irmão. Ela não quis, obviamente. 
Chorou. Gritou. Escondeu-se embaixo de um banco. Nada, absolutamente nada, a acalmava. Psicóloga e terapeuta ocupacional tentaram mediar a situação e a levaram para brincar um pouco. Isso não bastou. No caminho de volta para casa ela chorou porque viu um arco íris no céu. Chorou porque viu um grupo de meninas andando na calçada. Chorou por tudo, TUDO, T-U-D-O!

Eu, com um bebê pendurado, 'arrastando' uma criança aos berros, tentando fazer a cara mais neutra possível, só pensava em como prepararia o jantar em meio a este caos. Já no ônibus lembrei que tinha um pote de sopa no congelador (amém!). Animada, propus que fôssemos comprar pão para jantar sopa. Adivinha? Um grande não seguido de choro. 
Quando estávamos na rua de casa ela disse que queria jantar pão com manteiga.

(Aqui, minha gente, foi o momento exato onde escolhi se a noite seguiria caótica ou não).

Ela passou o dia na escola, fez pelo menos 4 refeições antes de eu ir buscá-la. Eu sabia o que tinha comido, era 'comida de verdade', nada de 'besteira'. 
Porque não deixar a menina jantar um pão com manteiga? Claro que deixei. 
O banho foi tranquilo, pois foi um pré requisito para que pudesse 'jantar'. Como ela queria muito esse bendito pão francês, não teve drama. 
Eu e Zion comemos sopa com pão. Zoé comeu só o pão. 

Lavou-se. Alimentou-se. Dormiu. Sem choro. Sem estresse.


Essa história não é sobre 'a criança ter vencido' ou sobre 'uma mãe permissiva'.
É sobre uma mãe, exausta, que tenta acolher, entender e se comunicar de forma não violenta com uma criança que está cansada, confusa, frustrada. 
É sobre fazer a paz. Não apenas um cessar fogo, mas tomar uma atitude concreta para que a paz seja real. 
É sobre oferecer condições para que a paz se fortaleça em nosso pequeno mundo (nosso lar) e reverbere em todo o Mundo, através desta nova geração que estamos criando.

Podemos, rapidamente, listar o que nos tira a paz. 
Agora, olha pra dentro de você e me responda: o que te traz/deixa em paz?

terça-feira, 11 de setembro de 2018

O dia em que minha filha me chamou de chata

Arquivo pessoal de 03/02/2015, quando eu sequer pensava que isso aconteceria

É claro que esse dia chegaria, eu só não imaginava que seria tão (TÃO) cedo.
Do auge de seus 3 anos e 10 meses, Zoé me chamou de chata.

Era uma segunda feira fria. Não tinha aula na creche. 
Uma segunda precedida por um fim de semana de muita brincadeira, passeio e diversão. 
Uma segunda em que eu estava cansada e sem energia.

Logo durante o café da manhã, enquanto Zoé falava animada, fazendo brincadeiras ao invés de comer, eu já anunciei que não estava bem e precisaria que fossem pacientes.
O dia estava indo bem, Alexandre trabalhando em casa (com portas fechadas), crianças brincando na sala e eu organizando a casa. Depois da soneca da tarde levamos os dois para a UBS, precisavam ser vacinados. 
Voltamos e eu comecei a preparar o jantar. Só que a menina queria muito que eu brincasse junto. 
Pedí que esperasse mais um pouco. Ela insistia. Eu pedia paciência. Ela insistia. Pedí que colaborasse comigo e me esperasse na sala porque o falatório estava me irritando. Ela insistia. Fiquei brava e falei, de forma rude, que ela deveria me obedecer. Ela ficou brava e disse que eu tinha que obedecê-la (quando ela está nervosa tem episódios de ecolalia) e por fim, gritou a plenos pulmões um C-H-A-T-A. Olhei pra ela sem saber como lidar com aquilo. 
Ela, claro, saiu pela tangente e foi pro quarto. O pai, ouviu tudo, e foi conversar com ela (que não queria papo). 
Lá foi ela atrás de mim, puxando um assunto qualquer. 
- Filha, eu estou triste agora e não quero conversar. Preciso ficar sozinha.
- Eu vou ficar sozinha! - e volta brava para o quarto.

Tempos depois, no colo do pai:
- Mamãe, desculpa. Zoé é mal criada.
- Eu te desculpo. Você não é mal criada. Depois conversamos.

Tomou um banho com o pai. Jantamos e a chamei pro sofá:

- Zoé, você estava brava porque eu não fui brincar contigo e por isso me chamou de chata?
- Sim.
- Entendo. Você se sentiu mal e queria que eu também me sentisse mal? 
- Sim.
- Filha, o nome disso é vingança. As vezes nós sentimos coisas tão ruins que queremos que as outras pessoas também sintam, mas isso não resolve o problema. Só piora. Eu entendo que você queria brincar comigo.
Sabe, Jesus uma vez disse que 'a nossa boca fala aquilo que o coração está cheio'. Se deixarmos nosso coração cheio de sentimentos ruins só vamos falar coisas ruins. Quando você estiver brava peça para a pessoa te deixar um tempo sozinha até se acalmar.
- Mamãe, Jesus falou que a boca fala o que o coração está cheio. Meu coração está cheio de amor, eu amo você.
- Eu também te amo, filha. Meu coração está cheio de alegria por te ter como filha.
Beijos e abraços. 

Sei que ela apenas reproduziu o que ouviu de alguém. 
Eu poderia acabar a história aqui com uma linda reflexão sobre ter cuidado com o rótulos (chato, chorão, fofoqueiro, comilão, mentiroso) que impomos sobre as pessoas, e principalmente nossos filhos. Sobre cuidar daquilo que levamos dentro do nosso coração e tudo o mais. Seguir a vida acreditando que eu lidei muito bem com esse conflito e tal. Mas... 3 dias depois ela pisou no castelo de pedras que um amigo fez. E eu?
- Nossa, filha, que chata você é!

😐