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terça-feira, 11 de setembro de 2018

O dia em que minha filha me chamou de chata

Arquivo pessoal de 03/02/2015, quando eu sequer pensava que isso aconteceria

É claro que esse dia chegaria, eu só não imaginava que seria tão (TÃO) cedo.
Do auge de seus 3 anos e 10 meses, Zoé me chamou de chata.

Era uma segunda feira fria. Não tinha aula na creche. 
Uma segunda precedida por um fim de semana de muita brincadeira, passeio e diversão. 
Uma segunda em que eu estava cansada e sem energia.

Logo durante o café da manhã, enquanto Zoé falava animada, fazendo brincadeiras ao invés de comer, eu já anunciei que não estava bem e precisaria que fossem pacientes.
O dia estava indo bem, Alexandre trabalhando em casa (com portas fechadas), crianças brincando na sala e eu organizando a casa. Depois da soneca da tarde levamos os dois para a UBS, precisavam ser vacinados. 
Voltamos e eu comecei a preparar o jantar. Só que a menina queria muito que eu brincasse junto. 
Pedí que esperasse mais um pouco. Ela insistia. Eu pedia paciência. Ela insistia. Pedí que colaborasse comigo e me esperasse na sala porque o falatório estava me irritando. Ela insistia. Fiquei brava e falei, de forma rude, que ela deveria me obedecer. Ela ficou brava e disse que eu tinha que obedecê-la (quando ela está nervosa tem episódios de ecolalia) e por fim, gritou a plenos pulmões um C-H-A-T-A. Olhei pra ela sem saber como lidar com aquilo. 
Ela, claro, saiu pela tangente e foi pro quarto. O pai, ouviu tudo, e foi conversar com ela (que não queria papo). 
Lá foi ela atrás de mim, puxando um assunto qualquer. 
- Filha, eu estou triste agora e não quero conversar. Preciso ficar sozinha.
- Eu vou ficar sozinha! - e volta brava para o quarto.

Tempos depois, no colo do pai:
- Mamãe, desculpa. Zoé é mal criada.
- Eu te desculpo. Você não é mal criada. Depois conversamos.

Tomou um banho com o pai. Jantamos e a chamei pro sofá:

- Zoé, você estava brava porque eu não fui brincar contigo e por isso me chamou de chata?
- Sim.
- Entendo. Você se sentiu mal e queria que eu também me sentisse mal? 
- Sim.
- Filha, o nome disso é vingança. As vezes nós sentimos coisas tão ruins que queremos que as outras pessoas também sintam, mas isso não resolve o problema. Só piora. Eu entendo que você queria brincar comigo.
Sabe, Jesus uma vez disse que 'a nossa boca fala aquilo que o coração está cheio'. Se deixarmos nosso coração cheio de sentimentos ruins só vamos falar coisas ruins. Quando você estiver brava peça para a pessoa te deixar um tempo sozinha até se acalmar.
- Mamãe, Jesus falou que a boca fala o que o coração está cheio. Meu coração está cheio de amor, eu amo você.
- Eu também te amo, filha. Meu coração está cheio de alegria por te ter como filha.
Beijos e abraços. 

Sei que ela apenas reproduziu o que ouviu de alguém. 
Eu poderia acabar a história aqui com uma linda reflexão sobre ter cuidado com o rótulos (chato, chorão, fofoqueiro, comilão, mentiroso) que impomos sobre as pessoas, e principalmente nossos filhos. Sobre cuidar daquilo que levamos dentro do nosso coração e tudo o mais. Seguir a vida acreditando que eu lidei muito bem com esse conflito e tal. Mas... 3 dias depois ela pisou no castelo de pedras que um amigo fez. E eu?
- Nossa, filha, que chata você é!

😐